quinta-feira, 27 de março de 2008

cento e vinte e um

Entrei no cômodo e logo reparei naquela mesa. Era de madeira, enorme. Quase tão profunda quanto a minha casa inteira. Havia alguém sentado lá na outra extremidade. Estava longe e eu não conseguia enxergar. Todos os alimentos se concentravam naquele canto: frutas, doces, pães, sucos... Ele fez um sinal receptivo com a cabeça e eu resolvi me sentar. Puxei a primeira cadeira que vi, a mais próxima da porta. Quando sentei, percebi que não alcançava a comida. E que não ouvia bem a conversa entre o anfitrião e seus serventes, lá na outra ponta. O anfitrião, que foi capturado pelos meus olhos como um borrão (e pelos meus ouvidos como um zunido), levantou-se e, apoiado na mesa, gritou:

"POR QUE VOCÊ INSISTE EM SENTAR TÃO LONGE DE MIM, TÃO DISTANTE DA COMIDA E DA FARTURA?"

O grito foi tão alto, que o momento se desfez. E eu acordei.

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