quarta-feira, 30 de setembro de 2009

quatrocentos e nove

Confusão pós-moderna

  1. Tem muita informação na minha cabeça.
  2. Tem muita cabeça na minha informação.
Frases sinônimas?

segunda-feira, 28 de setembro de 2009

quatrocentos e oito

Vovô bundão

Oito horas da manhã, centro da cidade, ônibus lotado. Viajo em pé, as pessoas do fundo são sempre as primeiras a descer e não param de me empurrar pra passar. Atrás de mim, um senhor de seus sessenta e poucos anos, todo empinado, enquanto eu sou quase jogada no colo das pessoas sentadas:
― Ô, vovô! Aqui não é lugar pra você ficar recordando seus bons momentos da juventude! As pessoas querem passar!
Nego fica chocado, mas entende o meu ponto. O velhinho continua lá, praticamente uma seta:
― Fala sério! Atrofiou nessa posição? Desencosta essa bunda murcha da minha!
Alguns riem.
― Porra! Eu vou mesmo ter que morrer amassada pros outros passarem?
Nada muda, exceto pela minha desistência.


Não quero ficar velha, não!

sexta-feira, 25 de setembro de 2009

quatrocentos e sete

Epidemia conceitual (a famosa modinha)

First of all, garanta o poder. Conquiste o respeito das outras pessoas, ao menos no aspecto considerado. A primeira etapa consiste na publicação de um conceito a ser massificado, normalmente num veículo restrito aos seguidores diretos do formador de opinião do topo da cadeia. Exemplo: Emitir uma determinada opinião numa mesa de bar. Ou num blogue pessoal. ;)

A segunda etapa se segue ao período de incubação do conceito nos primeiros "contaminados", que dura alguns poucos dias. Esses portadores do conceito fazem parte do nível logo abaixo na pirâmide da massificação. São pessoas respeitadas também, mas num grau menor do que o do autor do conceito. Essas pessoas também têm voz ativa em veículos com um espectro de seguidores ligeiramente maior do que o do gerador, veículos normalmente especializados na área genérica correspondente ao assunto. Exemplos: Colunistas de revistas especializadas. Estudiosos-celebridade dentro da área, geralmente entrevistados por programas de TV.

Ampliando a pirâmide, chegamos ao nível dos antenados. São pessoas que consomem os discursos dos integrantes do nível anterior através de veículos especializados e, contaminados, aplicam o conceito na sua área de atuação, normalmente relacionada direta ou indiretamente à do nível anterior e com um público ainda maior. É o começo da epidemia. Exemplos: Figurinistas que escolhem roupas do elenco de uma novela de acordo com as tendências da moda. Cantor que foi contaminado por um documentário da Discovery e usa conceitos na própria obra.

A essa altura, o conceito já circula visivelmente nas camadas mais altas da pirâmide. A base, composta pela grande massa, já notara que alguma coisa acontecia, mas só passa a se contaminar nesse último estágio, depois de contato direto ou constante com o conceito em questão, através dos produtos de mídia de massa. Em pouco tempo a epidemia se espalha e se integra ao cotidiano, até que um novo conceito se transforme em epidemia, ofuscando o anterior.

quinta-feira, 24 de setembro de 2009

quatrocentos e seis

Publicidade: a arte da sedução. E o Quico.

Eu me considero apaixonada pela arte da sedução. Não pela publicidade em si, mas pela arte/técnica de conquistar as pessoas através de um produto pronto, seja ele música, texto, anúncio ou whatever. Resolvi buscar empiricamente a origem desse interesse. Minha infância foi bastante lúdica, fui uma criança muito criativa, tive contato com várias artes desde muito pequena... Mas isso ainda não justifica.

Todo mundo tem aptidões bem claras desde cedo. O que eu observo é que muita gente segue essas aptidões e alguns poucos optam por tentar desbravar exatamente as áreas em que encontram dificuldade. E o meu empirismo foi além: é comum que os que não têm muitas aptidões se agarrem a elas com todas as suas forças. Assim como também é comum que pessoas com muitos talentos acabem se confundindo um bocado na vida. É por isso que eu respeito mais os "desorientados" do que os "bem-resolvidos". Pessoas inteligentes estão sempre buscando. Só os estúpidos acreditam ter encontrado alguma resposta definitiva na vida.

E o Quico? Muito simples: eu não tinha talentos sociais, nunca soube me relacionar com as pessoas. Sofri muito na infância com adjetivos relacionados à chatice e feiúra. Pra ser sincera, continuo com a mesma personalidade retraída, teimosa e ligeiramente fria. Não sei demonstrar carinho, não sei cultivar amizades. E tenho fortes tendências sincericídias. Quanto à feiúra, bom... nunca fiz nenhuma plástica. Só tratamento dentário. Em algum momento percebi as minhas qualidades e passei a abstrair os meus defeitos. E as pessoas notaram. Passei anos comunicando a mensagem errada, I guess. Ser culta, boa aluna e introvertida pode ser algo traumático pra uma criança. Mas todos os meus professores acreditavam em mim. Ao menos eles.

Os professores de Matemática e Ciências realmente acreditavam no meu sonho de estudar Astronomia. Já os professores de História e Geografia apostavam que eu seria professora. Os de Língua Portuguesa e Redação apostavam no meu talento como escritora. Acabei dando a volta ao mundo acadêmico, sem encontrar respostas definitivas. Até agora.

Depois de todo o trauma de patinho feio e todas as crises existenciais, finalmente encontrei uma direção: a arte da sedução. Óbvio! Estava na cara o tempo inteiro! A principal habilidade que me faltava! E aqui estou, publicitária. Cada dia menos empolgada, afinal, quanto mais domino uma técnica, menos me interesso por ela.