segunda-feira, 31 de março de 2008

cento e vinte e três

Às vezes a gente quer tanto o que não quer, que acaba conseguindo.

cento e vinte e dois

A inspiração é movida a fracasso.

quinta-feira, 27 de março de 2008

cento e vinte e um

Entrei no cômodo e logo reparei naquela mesa. Era de madeira, enorme. Quase tão profunda quanto a minha casa inteira. Havia alguém sentado lá na outra extremidade. Estava longe e eu não conseguia enxergar. Todos os alimentos se concentravam naquele canto: frutas, doces, pães, sucos... Ele fez um sinal receptivo com a cabeça e eu resolvi me sentar. Puxei a primeira cadeira que vi, a mais próxima da porta. Quando sentei, percebi que não alcançava a comida. E que não ouvia bem a conversa entre o anfitrião e seus serventes, lá na outra ponta. O anfitrião, que foi capturado pelos meus olhos como um borrão (e pelos meus ouvidos como um zunido), levantou-se e, apoiado na mesa, gritou:

"POR QUE VOCÊ INSISTE EM SENTAR TÃO LONGE DE MIM, TÃO DISTANTE DA COMIDA E DA FARTURA?"

O grito foi tão alto, que o momento se desfez. E eu acordei.

terça-feira, 18 de março de 2008

cento e vinte

Passo pelos lugares por onde passamos no passado. Torço o pescoço e procuro a gente, pra ver se ainda estamos lá, como um dia estivemos. Meus olhos buscam em vão e eu perco o cenário de vista. Sem te ver. Sem me ver. Não estamos lá. Óbvio, até. Mas eu sei que isso ainda vai se repetir muito. Mesmo sabendo que eu não posso estar lá e cá ao mesmo tempo.

sexta-feira, 14 de março de 2008

cento e dezenove

Realize.

cento e dezoito

Esses pontinhos só se juntam pra complicar tudo... É por isso que eu prefiro que andem sozinhos.

quinta-feira, 13 de março de 2008

cento e dezessete

Não espere palavras de alguém que sabe o que fazer com elas.

cento e dezesseis

- Ei!
- Quem é você???
- Eu sou a Ficção! Tudo bem?
- Como assim?!?!?!
- Pois é. Vim aqui pra saber o que você tem contra mim.
- Pára tudo! Por que isso?
- Eu sei que você não gosta de mim. Só quero entender o motivo.
- Bem... Não é nada pessoal, não. Mas te acho meio falsa.
- Qual foi? De onde você tirou isso?
- Ué, você é uma mentirada só!
- Você está enganada! Eu sou a verdade! Você é que não vê!
- Fala sério! Você é só um personagem! Você é apenas a personificação de um conceito! Você nem mesmo fala! Isso aí é tudo ficção. É balela, mentirada pra atingir algum objetivo comunicativo que não pôde ser alcançado através de fatos reais.
- Como pode eu não existir se eu faço parte deste momento? Essas coisas que você diz me chateiam.
- Olha, desculpa. Eu entendo o seu desespero. Mas não sei como te ajudar.
- Só me fala por que você não gosta de mim.
- Não gosto de você porque você se mete nos momentos reais. Você estraga a beleza dos sentimentos puros e naturais.
- Tá me chamando de intrometida???
- Sim.
- Isso é um absurdo! Eu NUNCA me meto nos assuntos dos outros! Só não posso fazer nada se alguém resolve me incluir em alguma situação! Não vou deixar ninguém na mão.
- Por que alguém incluiria você?
- Porque eu sou real, meu bem. Quer você queira, quer não.
- Ficção não é real, cacete!
- Como não???
- Você não existe, caramba!
- Ah, não? Então me diz o que eu faço aqui?
- Aqui onde?
- Aqui mesmo. Neste diálogo.
- Sei lá. Você se meteu, pra variar.
- Não é verdade. Só estou tentando uma aproximação. Você implica comigo só porque não me conhece direito.
- Humpf! Você é mais chata do que eu imaginava... Sai fora daqui! Ninguém te chamou aqui!
- Tá certo, sua grosseira! Você sabe como me encontrar. Tchau.

cento e quinze

Você não é o que você tem.
Você não é o que você fala.
Você não é o que você consome.
Você é o que te motiva.
Você é o que te inspira.
Você é o que te faz feliz.

Você é o que você é, porra! Os outros também! A sinceridade do verbo ser se limita ao intransitivo. Qualquer complemento mascara o verbo.

É difícil enxergar o que apenas é.

quarta-feira, 12 de março de 2008

cento e catorze

- Vim me candidatar à vaga de estágio que vocês divulgaram.
- Hum... O prazo de inscrição terminou ontem...
- Eu sei, mas eu só vi o anúncio hoje. Posso entregar o meu currículo mesmo assim?
- Até pode...
- Mas eu não tenho ele impresso. Posso imprimir aqui?
- Você tem ele aí?
- Não. Tá no meu email. Só preciso de um computador com internet.
- Senta naquele ali.
(...)
- Essa máquina tá muito ruim. Muito lenta.
- Pega um disquete ali e passa pra outra.
- Disquete?!?!?! Tá de sacanagem?
- É, disquete.
(...)
- Posso tentar em outra máquina?
- Tenta aquela ali.
- Certo... É você que vai selecionar os estagiários?
- Não.
- E quem vai ser?
- A Zuleica.
- Pede pra ela dar uma atenção especial ao meu currículo.
- Pode deixar.
- Eu vou trabalhar nesta sala aqui?
- Provavelmente.
- Quero aquela mesa ali perto da janela.
- Uhum.
- Não tá funcionando...
- Me dá isso aqui! Vou imprimir na outra sala!
- Ah, tá. Eu espero aqui.
(...)
- Pronto!
- Muito obrigada! Então... Aqui está! Meu currículo!
- Vai um cafezinho aí?
- Claro! Tem adoçante?
- Tem, sim. E bolachas! Pega aí!
- Demorô! Aí... você me empresta dois e dez pra passagem? Te pago quando sair o meu primeiro salário...
- Pega ali na minha mochila.
- Valeu! O resultado sai quando?
- Antes do fim-de-semana...
- Então tá. Até segunda!
- Até!

terça-feira, 11 de março de 2008

cento e treze

Todo elemento está sempre preso a um conjunto-universo.

segunda-feira, 3 de março de 2008

cento e doze

Palavras não são verdades.