quarta-feira, 28 de abril de 2010

quatrocentos e trinta e nove

Ética e moral nos coletivos

Passar 1/6 da vida dentro de ônibus faz você elaborar teorias das mais variadas. Graças à minha (farta) experiência no assunto, formulei alguns preceitos sobre uma questão específica do comportamento humano dentro do bom e velho busão: o espaço visual.

Ao entrar num coletivo, você se insere em um universo de significados bem particular. Você passa a assumir o papel de passageiro, que sugere que você está apenas de passagem por aquele meio de transporte. Isso faz de você um elemento subordinado ao motorista (também conhecido como "piloto"), figura máxima do universo de duas portas. Outras figuras fazem parte desse universo: o cobrador, o rodoviário, o idoso, o estudante de escola pública, o deficiente, o camelô, o pedinte, o assaltante, o carona, a namorada do piloto...

Como em qualquer universo, cada papel desse é regido por um sistema de normas sociais. Um bom exemplo disso é a namorada do piloto, cuja norma geral é viajar de graça, sentada na capota e conversando com o motorista durante toda a viagem.

Algumas regras servem para todos: devemos ceder o lugar pros idosos, gestantes, deficientes e pessoas com criança de colo; devemos ceder a bolsa pro sujeito que te mostra um canivete ou uma faca... E existe uma questão de extrema importância em uma viagem de ônibus: o espaço visual individual. O cobrador (quando existe) é a quem é permitido o maior espaço visual do veículo. Ele pode olhar em qualquer direção, para quem quiser, sem a menor cerimônia. E ainda pode olhar de cima! Quanto aos que viajam em pé, a regra é simples: todo espaço à frente dos seus olhos é visualmente seu, com direito à um ângulo de 45° de abertura. Complexo mesmo, é o funcionamento dessas regras para passageiros que sentam nos assentos, duplos, que proporcionam demasiada proximidade a pessoas que nunca se viram na vida.

As regras do espaço visual do passageiro sentado são baseadas no princípio de que os vizinhos de assento devem se comportar como se o outro não existisse. Vizinhos de assento têm direito à privacidade individual e a coisa funciona como se houvesse uma mureta entre os dois assentos. Situações na qual um dos vizinhos iniciam um diálogo ou olham para o outro são consideradas como desconfortáveis. Pra facilitar o raciocínio, vamos às ilustrações:


Figura 1

Na figura 1, observamos a área relativa ao espaço visual de cada passageiro: o da janela, em cyan, e o do corredor, em magenta. Essa configuração é a ideal e seu conforto é devido ao fato de que o espaço visual dos vizinhos só se encontra fora dos limites físicos do veículo. Ambos desfrutam do seu espaço sem invadir o espaço do outro.



Figura 2

A figura 2 mostra uma situação na qual o passageiro do corredor invade o espaço visual do passageiro da janela, certamente proporcionando desconforto ao passageiro invadido. Muitas vezes esse tipo de invasão do espaço visual está relacionada a um interesse sexual (invasão latitudinal) ou a um interesse criminoso (invasão focada, localizada no objeto de interesse).



Figura 3

Nesse caso, é o passageiro da janela que invade o espaço visual do passageiro do corredor, provocando o desconforto deste último. É uma invasão mais comum que a anterior, pois pode ser justificada por um interesse do invasor em relação a algo que supostamente aconteceria/existiria no campo de visão da janela do hemisfério oposto. De qualquer maneira, é uma quebra de protocolo que deve ser evitada.

Essas ideias foram baseadas nos modelos dos ônibus cariocas e podem variar de cidade para cidade. Imagino que todo mundo conheça essas regras de forma empírica, mas organizar as informações nunca é demais. ;)

domingo, 25 de abril de 2010

quatrocentos e trinta e oito

Ah, os direitos humanos...

Esse negócio de declaração universal de direitos humanos é a maior furada da contemporaneidade! É baseada em conceitos que estão longe de serem partilhados por todos. Como eu gosto de cutucar as pessoas, driblei minha gripe e vim aqui cuspir algumas considerações sobre o assunto.



Artigo I
Como assim todos nascem livres e iguais? De onde tiraram isso? Não conheço 2 pessoas que tenham nascido nas mesmas condições e com liberdade de escolha. Que eu saiba, só começam a nos conceder as primeiras liberdades muitos anos depois que começamos a falar. Não venha me dizer que o filho de uma mendiga nasce nas mesmas condições de dignidade que o filho de uma grande empresária. Poupe-me da hiprocrisia! "Devem agir com espírito de fraternidade"... Claro! O espiríto de fraternidade é fundamental para conter as emoções mais ameaçadoras de qualquer pessoa. Muito conveniente!

Artigo II
Se todos temos a capacidade de gozar dos tais "direitos humanos", então concordamos que faltam oportunidades!

Artigo III
"Toda pessoa tem direito à vida, à liberdade e à segurança pessoal". Desde que possa pagar por elas, obviamente!

Artigo IV
A escravidão é proibida. Mas trabalhar que nem um filho da puta pra não conseguir nem mesmo pagar as contas no final do mês, aí tudo bem.

Artigo V
Ninguém deveria ser submetido a tratamento desumano... Mas engarrafamentos, hospitais sem médicos, assaltos regulares e traições conjugais não têm problema. Pra não falar das dinâmicas de grupo!

Artigo VI
"Toda pessoa tem o direito de ser, em todos os lugares, reconhecida como pessoa perante a lei". Até mesmo os desumanos!

Artigo VII
Se todos são iguais perante a lei e têm os mesmos direitos, alguém pode me explicar o mecanismo que dá a pessoas dotadas de determinadas características físicas específicas o direito de acusar outras de preconceito por causa de metáforas enquanto outras simplesmente não podem reclamar? Queria ter sido mais direta aqui, mas esse assunto deve ser tratado cheio de dedos. Principalmente porque eu, apesar de já ter sido comparada com coelhos, baleias, leoas e aves, nunca fui comparada com nenhum primata (vale ressaltar que os humanos também pertencem à ordem dos primatas). Isso pra não falar dos direitos básicos que são constantemente negados a quem não tem dinheiro.

Artigo VIII
"Toda pessoa tem direito a receber dos tributos nacionais competentes remédio efetivo para os atos que violem os direitos fundamentais que lhe sejam reconhecidos pela constituição ou pela lei". Ah, claro!

Artigo IX
"Ninguém será arbitrariamente preso, detido ou exilado". E os engarrafamentos? E as enchentes? E os tiroteios? Já cansei de ficar presa em pontos de ônibus por falta de carros e/ou de espaço dentro deles. Pra não falar das filas de banco!

Artigo X
Todos têm direito a julgamento imparcial, mas a possibilidade de comprar o próprio veredicto é uma característica inerente ao capitalismo. Não tem a ver com direitos humanos, né?

Artigo XI
"Toda pessoa acusada de um ato delituoso tem o direito de ser presumida inocente (...)", assim como toda pessoa inocente tem o direito de ser presumida delituosa, oras! Principalmente se for em panelinhas de fofoca!

Artigo XII
"Ninguém será sujeito a interferências na sua vida privada, na sua família, no seu lar ou na sua correspondência, nem a ataques à sua honra e reputação". A pergunta é: quem nunca é obrigado a passar por essas situações constantemente?

Artigo XIII
"1. Toda pessoa tem direito à liberdade de locomoção e residência dentro das fronteiras de cada Estado". Locomoção a pé. E pode residir nas beiras dos valões, ou nos lixões, ou em qualquer outro lugar que não "atrapalhe o sábado".
"2. Toda pessoa tem o direito de deixar qualquer país, inclusive o próprio, e a este regressar". É só comprar as passagens!

Artigo XIV
"Toda pessoa, vítima de perseguição, tem o direito de procurar e de gozar asilo em outros países". Se não for executado antes.

Artigo XV
VENDO NACIONALIDADE! Nunca usada! Leve três pelo preço de duas!

(continua... ou não)

quarta-feira, 21 de abril de 2010

quatrocentos e trinta e sete

No meio da viagem, o rapaz que me prestava o serviço de frete virou e disse:

"Você é diferente..."

"Sou?!?!?"

"É! Seu jeito de falar... Não sei... É diferente!"

"Tá bom... Vou levar como elogio..."

"Você não sabia que era diferente?"

"Não! É pelo cabelo curto?"

"Hum... Você é punk? Algo do tipo?"

"Sei lá... Sou?"

"Ah... Você é diferente!"

"Bom saber..."


quarta-feira, 7 de abril de 2010

quatrocentos e trinta e seis

Novo layout


Qualquer semelhança entre a nova cara do TQ e os jogos dos Super Mario Bros é mera coincidência. Ou não.

Deu muito trabalho pra achar um print screen com esse "pattern perfeito" que servisse de referência para a adaptação. Mas aí está. Espero que gostem.

Adendo: Bendito seja o emulador que faz o PS2 voltar à era 2D!

terça-feira, 6 de abril de 2010

quatrocentos e trinta e cinco

Esportes de verão tipicamente cariocas

O Rio de Janeiro é mundialmente conhecido pelas suas peculiaridades. E não poderia ser diferente quanto aos esportes. Vejam as modalidades mais badaladas do momento, que fazem parte das Olimpíadas de Verão Carioca:

Natação em esgoto: existem diversas modalidades do esporte, mas todas são realizadas em ruas alagadas pelas chuvas. As mais populares são as diversas variações de estilos da natação desportiva. As principais dificuldades do esporte consistem em driblar os mais variados objetos (e animais) que flutuam nas águas e sobreviver à primeira semana após a prova.

Carro enguiçado: é uma competição de força, na qual os atletas ou as equipes devem empurrar veículos enguiçados por uma via. As provas variam em dois estilos: carro de guerra (similar ao cabo de guerra) e corrida (o primeiro carro empurrado a cruzar a linha de chegada vence a prova).

Samba: passistas são avaliadas em coreografias solo, em dupla ou em grupo. Os critérios de avaliação consistem basicamente em coreografia, harmonia, fantasia, samba-enredo, comissão de frente e comissão de trás.

Orientação de risco extremo: modalidade na qual os atletas devem cruzar uma comunidade desconhecida, geralmente localizada em morros, contando apenas com um mapa. Além da capacidade de orientação, também são importantes nesse esporte a capacidade de desviar de projéteis e a sorte do atleta.

Raquetização: é praticada em quadras fechadas, onde são liberados diversos mosquitos aedes aegypti a partir de uma ligação com um terreno baldio repleto de água parada e larvas. A pontuação final da prova é obtida a partir da subtração dos pontos de dengue (caso o atleta venha a desenvolver a doença) dos pontos referentes à quantidade de mosquitos que o atleta consegue eliminar com a raquete elétrica.

Tiro sem alvo: as equipes praticam tiro livre, em qualquer direção, de pontos altos da cidade. A pontuação é proporcional à distância e à gravidade das vítimas atingidas.

Luge de deslizamento: os atletas devem descer uma encosta durante um deslizamento provocado por chuva, sentados sobre um pedaço de compensado. Vence o que chegar primeiro e não sofrer soterramento.

Salto de poça: modalidade na qual os atletas devem saltar poças de água em estilos que variam entre salto em distância, salto criativo e salto com guarda-chuva (similar ao salto com vara). O esporte depende das tempestades de verão.

Com a total possibilidade de realização dessas competições, devemos nos orgulhar dessa cidade que, além de maravilhosa, é inquestionavelmente olímpica!

Nós apoiamos o abaixo-assinado pelo reconhecimento do Recol (Resistência a Engarrafamento em Coletivos Lotados) como esporte olímpico. Assine!