terça-feira, 30 de junho de 2009

quatrocentos e dois

Linguagem da mãozinha



É tão natural andar de mãos dadas com o namorado, que eu nunca tinha reparado que a posição das mãos segue um padrão: a mão dele sempre fica na frente da minha. Tentei inverter a posição das mãos e foi incômodo, como se tivesse mal encaixado. Aí trocamos de lado. Mais uma vez, só foi confortável quando a mão dele estava na frente da minha. Pesquisei rapidamente no Google, pra tentar encontrar algum artigo científico que justificasse esse "encaixe". Não encontrei nada. Mas a questão continua no ar: é um encaixe anatômico ou social? E os casais homossexuais? Como fazem?

Tô intrigada.

segunda-feira, 29 de junho de 2009

quatrocentos e um

Rewind

Passado o choque inicial da morte do Michael Jackson, quinta passada, as notícias continuam pipocando em todos os veículos possíveis. Andando pelo Rio de Janeiro, é fácil ouvir os clássicos do Rei do Pop soando das mais variadas fontes, de estabelecimentos comerciais aos residenciais. Isso porque os mp3 players não explicitam que estão recheados de álbuns do falecido astro.

É inacreditável! O Michael fazia parte do grupo daquelas pessoas que a gente acha que não vão morrer nunca. Depois da Dercy, parece que realmente abriu espaço para a morte desses ícones indestrutíveis. Não me surpreenderia se nos próximos meses morressem o Silvio Santos, a Xuxa, o Roberto Carlos, a Madonna, o Ronaldo, o Pelé e tantos outros "reis" da mídia.

A situação é tão inesperada, que todo mundo busca uma explicação plausível. E aparecem várias manchetes acusando um remédio como culpado. Como se ninguém morresse aos 50 anos. Ainda mais de infarto. Oras, meu pai morreu de infarto fulminante aos 52 anos. E olha que ele nunca teve vitiligo, nunca trocou de cor, nunca foi ídolo pop, nunca sofreu pressão da mídia, nunca foi acusado de abusar de menores e não tomava remédios. A morte do Michael pode ter sido natural, sim. Infarto é uma das principais causas de morte nos EUA. Por quê não aconteceria com o Rei?

A verdade é que a mídia ressucitou o ídolo Michael Jackson só para transformar a sua morte em mais um grande espetáculo. Afinal, como muitos já comentaram por aí, a mídia já tinha assassinado o cara faz tempo. É a última chance de atrair o público às custas desse monarca, é a última chance de "fazer dinheiro", como eles dizem. Para a festa ficar completa, só falta apresentação circense, freak show, petiscos e um Glauber Rocha com uma câmera em punho, disposto a registrar o momento. Afinal, "somente a ingratidão" foi a "companheira inseparável" da estrela que mudou de cor, dançava pra trás e gostava de crianças.

O assunto ainda vai dar muito pano pra manga, mas nada tira da minha cabeça que foi uma morte natural, resultado de estresse crônico. No fim de tudo, acabou que Michael finalmente descobriu o que é sossego. E talvez esse seja o começo de uma saga de estresse crônico para muitos jornalistas. Estressem-se em paz.

sexta-feira, 26 de junho de 2009

quatrocentos

Educação ou programação?

Uma canga estendida no canto da calçada. Nela, um lençol amassado, uma bolsa e um par de tamancos. Nada mais. Nem ninguém. Provavelmente era um lar improvisado de alguma moradora de rua que não estava por perto às 4h daquela tarde fria. O ônibus que me levava pra Tijuca continuava parado no sinal vermelho. Estudantes circulavam fazendo barulho, numa coreografia nada sincronizada. Fiquei impressionada com a preocupação dos transeuntes em desviar daquela canga. Ninguém ousava invadir o território demarcado pelo acessório de praia. Nem criança, nem mendigo, nem curioso. Todos respeitavam o espaço da proprietária ausente. E ela provavelmente já o esperava, afinal, deixou seus pertences ao alcance de qualquer um, atitude que transparece sua despreocupação.

A verdade é que a gente já espera que não haja nada de valor num espaço tão humilde. Da mesma forma, somos treinados desde cedo para respeitarmos as coisas dos outros e acredito que esse costume, tão cristalizado, foi um forte componente na manutenção do estado original daquela "propriedade". E se aquela bolsa tivesse sido roubada? E se o dia tivesse rendido uma boa arrecadação em colaborações solidárias?

Passei os últimos dias refletindo sobre essa observação e achei legal compartilhar com vocês. É uma grande prova de que respeito não se constrói através de muros. E de que pobreza não é sinônimo de imoralidade, nem de desordem.