sexta-feira, 26 de junho de 2009

quatrocentos

Educação ou programação?

Uma canga estendida no canto da calçada. Nela, um lençol amassado, uma bolsa e um par de tamancos. Nada mais. Nem ninguém. Provavelmente era um lar improvisado de alguma moradora de rua que não estava por perto às 4h daquela tarde fria. O ônibus que me levava pra Tijuca continuava parado no sinal vermelho. Estudantes circulavam fazendo barulho, numa coreografia nada sincronizada. Fiquei impressionada com a preocupação dos transeuntes em desviar daquela canga. Ninguém ousava invadir o território demarcado pelo acessório de praia. Nem criança, nem mendigo, nem curioso. Todos respeitavam o espaço da proprietária ausente. E ela provavelmente já o esperava, afinal, deixou seus pertences ao alcance de qualquer um, atitude que transparece sua despreocupação.

A verdade é que a gente já espera que não haja nada de valor num espaço tão humilde. Da mesma forma, somos treinados desde cedo para respeitarmos as coisas dos outros e acredito que esse costume, tão cristalizado, foi um forte componente na manutenção do estado original daquela "propriedade". E se aquela bolsa tivesse sido roubada? E se o dia tivesse rendido uma boa arrecadação em colaborações solidárias?

Passei os últimos dias refletindo sobre essa observação e achei legal compartilhar com vocês. É uma grande prova de que respeito não se constrói através de muros. E de que pobreza não é sinônimo de imoralidade, nem de desordem.

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